"Ela disse estar solteira, mas falou ter várias opções...
Inúmeras mensagens no whatsapp, facebook e instagram... Todos os dias vários convites para sair...
Ela disse que tinha o poder da escolha em suas mãos.
Só na academia eram três. O primeiro era um cara bonitão, sarado, barriga tanquinho, alto, cheio da grana, mas era um chato narcisísta que só falava de si mesmo. O segundo era musculoso também, só que pesava contra ele uma denúncia de agressão à uma ex namorada. O terceiro não era tão forte, nem tão alto, mas tinha um sorriso bonito, uma presença marcante, seria ideal se falasse de outra coisa além de sexo...
Aliás, muitos dos seus pretendentes eram assim: tudo girava em torno do sexo. O papo podia ser diferente, a abordagem também, mas no fim todos queriam o mesmo; a transa de uma noite.
Ela disse ter várias opções...
O novo vizinho, que depois descobriu não pagar a pensão dos filhos, o cara do trabalho que era casado, o colega da faculdade que parecia um príncipe no primeiro momento, mas que se transformou num sapo ao reproduzir discurso machista.
Ela disse que tinha várias opções...
Como o cara que falava o quanto ela era gostosa, ou o outro que pedia insistentemente uma foto "de agora" e aquele também que escrevia coisas como "agente e conserteza" por não ter o hábito da leitura. Tinha também o que queria regular as suas roupas, sua maquiagem, seu círculo de amizades, o que vivia mais bêbado que sóbrio e o playboy que se mantinha com a mesada do papai. O cara pouco higiênico e o desligado que achava que viver era curtir o barato de tragar um, dois ou três cigarros...
Havia o cara que declarava amor a namorada no face, mas que a convidava pra sair no menssager, o que jurava que ia largar a esposa, mas que precisava de um tempo pra se divorciar, o que tinha dinheiro e achava que ela estava a venda.
Ela dizia ter muitas opções...
O mentiroso, o tarado, o machista, o infiel, o covarde, o possessivo, o opressor, o canalha, o narcisista, o imaturo, o agressivo, o controlador, o inseguro...
Ela disse ser cheia de opções...
Todos falavam da sua bunda, nenhum reparou na rachadura que ela carregava na alma.
Todos falavam dos seus seios, nenhum percebeu a intensidade do seu coração.
Todos falavam dos seus olhos, ninguém notou o brilho triste que eles carregavam.
Todos a convidavam pra sair, ninguém lhe pedia pra ficar.
Todos perguntavam da sua vida sexual,mas nenhum quis saber qual era seu escritor favorito, a música da sua vida, o nome do seu cachorro, a sua opinião sobre a situação política do país.
Todos queriam levá-la pra cama de um motel, nenhum falou sobre levá-la ao churrasco da família no domingo.
Ela sorriu tristemente e falou sobre ter várias opções...
E eu nunca tinha visto alguém tão sem alternativas quanto ela..."
Júnior Rodrigues
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